Estar contigo foi uma pausa. O refúgio eterno das nossas mãos. Estar contigo foi um erro. O erro indelével de me teres magoado. Hoje o vento sussurra no teu tom de voz coisas que não entendo. Hoje a chuva é gelada e seca; as gotas tocam a nossa música, esquecem-se da letra. Hoje as minhas mãos seguram ar e no ar perco os meus dedos. Hoje gastam-se as horas, perdem-se os sonhos, esquecem-se os segredos. Hoje somos tão menos que ontem. Ontem eras o meu sorriso e hoje canso-me de lutar para não chorar. Ontem procuravas-me, hoje espero por ti. Ontem sabias que me adoravas, hoje nem sei se pensas em mim. Hoje peço o ontem a esta linha de tempo miserável que me impede de voltar. Sou tudo o que já nao consegues ver. Lamento. Lamento teres-me acontecido. Lamento este silêncio que me fere por não apagar mentiras. Lamento, lamentei que não me amasses, lamentei que não voltasses, lamento se te cheguei a magoar, lamento saber recordar-te... Quebram-se os momentos... Quebra-se o tempo... De novo... abandonar a cabeça na almofada e ouvir a tua voz saltitar de um assunto para o outro. Deixo-me embalar no carinho das tuas mãos a embrulhar as minhas como um presente dos anjos; dedos entrelaçados, dois espíritos ligados pela força do amanhã. De novo, de novo... naquela atmosfera de silêncios e sorrisos, parando relógios e o movimento das ruas. Só nós os dois... E o mundo podia ruir junto à minha janela que não me interessava... Nada me importava. Só aquela sensação. Aquela paz, um carinho derramado sobre a minha pele pelo calor dos teus lábios. Quase adormecer ao ritmo da tua respiração e logo despertar para seguir o rastro de fogo da tua saliva. Devolver-te um riso. Devolver-te um sorriso! Cravar as unhas na tua carne. Sinto o teu corpo, vejo-o sem olhar. Reconheço-te! Abrigo de todas as emoções. Quero-te um pouco mais... Perdida nesse mundo de sombras e magia. Dedicada a cada segundo só nosso. É cair do abismo, é saber voar. Mordes-me o ombro com um gemido e, no teu olhar, um poema que nunca tinha lido.
Ama-me, uma ordem, um pedido. Palavras que não quero esquecer. Dou-te a mão, não te queria perder...Ouves-me? Não te queria perder. De novo... Rodar os ponteiros e ver-nos acontecer num mundo a que já não pertenço. E, à noite, as estrelas brilham só por nós, para nos levar de volta ao passado? Não, elas brilham para nós, para vermos que só nos resta o passado. Não sofro, não choro. Estou só cansada de não encontrar a serenidade de te ter a meu lado. Cansada, e queria ouvir de novo a tua voz a dizer-me que se continuo assim ainda te apaixonas por mim. Sorrio, fecho os olhos e peço que me ames; nunca, ninguém, me fez sentir tao completa. Aperto a tua mão para te dizer que não há problema. Seria incapaz de te magoar. Encerro-te no meu beijo e prometo-te carinho, dedicação... Nada é para sempre, mas prometemo-nos eternidade. Guardo o teu sorriso na pele e não te odeio. Hoje olho para ti, somos cinza. Respiro-nos e sufoco. Tantas dúvidas destroiem uma única verdade: foi bom! Só um pensamento me consome... de novo... As pontas dos teus dedos traçam caminhos pela minha pele. Já os percorreste a todos, mas descobre-los e traças novos trilhos. E eu, deixo-me ficar quieta, fecho os olhos e fico feliz por ser apenas o que sou: tudo e nada. Quase choro ao abrir os olhos, somos passado. Que o tempo me perdoe e me tome como sua protegida, para que me conceda o impensável... de novo... de novo... de novo... Só mais uma noite sob um céu sem estrelas para eu te beijar as mãos e dizer
obrigada e adeus.
Andreia Martins
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