Thursday, March 5, 2009

Ignorância XL

Com dois álbuns editados e mais de cinco mil discos vendidos, o rapper português Chullage é, indubitavelmente, uma referência no panorama musical nacional para qualquer artista independente. Em paralelo à sua carreira musical, Nuno Santos é participante activo em um projecto social que apoia as causas de jovens afro-descendestes na Margem Sul, através de artes urbanas. Desse projecto resultou a associação Khapaz, sedeada na Arrentela, concelho de Seixal.

Quando é que um artista é independente?
Um artista é independente quando tem controlo sobre a sua criatividade e ideologias e não está sob a pressão de uma major label: a produção e distribuição do seu trabalho depende de si. Hoje em dia há uma maior liberdade para se ser independente, graças às novas tecnologias, como a Internet. O artista promove-se autonomamente e já não precisa de agradar rádio, televisão ou outras entidades capitalistas.

Como justificas o teu sucesso comercial?
Isso do sucesso comercial é relativo… mas não estou a dizer que a minha música não é comercial. Quando se tem um álbum à venda na prateleira de uma loja, está-se a assumir a comercialização daquele produto. Mas quando comecei, a novidade das mensagens das minhas letras acabou por atrair os jovens, ricos e pobres, que se reviam naquelas palavras de desigualdade e protesto. E a própria musicalidade das faixas surgiu como alternativa ao tipo de música que se comercializava – com sucesso – na altura.

A música é a tua arma na luta contra a exclusão social?
A musica é um instrumento e não uma arma. Utilizo-a para transmitir a minha mensagem; como meio de vincular meus ideais.
Mas um activista não é só um activista porque protesta. Não vale de nada criticarmos se depois ficamos de braços cruzados e não fazemos nada para inverter as causas do nosso descontentamento...

Consideras-te um político?
Não! Não… aliás, nos últimos tempos, a palavra político é aquela que me causa mais descrédito. Políticos, partidos, governos… não acredito numa politica parlamentar, onde para tudo se exige uma série de burocracias para que, no final, os beneficiados sejam sempre os mesmos… gosto e tenho o privilégio de poder fazer circular as minhas ideias através da minha música, mas não sou nem me identifico como politico e …

No tema Os Tempos Mudam, do álbum Rapresálias (2001), procuravas a velha Arrentela. conseguiste encontra-la?
Não encontrei, nem a vou encontrar. Procurar a velha Arrentela é uma metáfora. Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, o mundo mudou… na rua as caras são outras, alguns emigraram, à procura de uma vida melhor, outros imigraram... Não espero encontrar a velha Arrentela, mas gostava que os jovens de agora construíssem uma nova Arrentela, com que se pudessem identificar.

E é nesse sentido que a associação de inclusão social, de qual fazes parte, a Khapaz, trabalha?
Primeiramente, somos uma associação cultural. A palavra inclusão tem dois sentidos e por essa mesma razão prefiro evita-la. São os jovens que devem definir o seu itinerário de inclusão. Não somos nós nem os programas do aparelho central que o definem. Na Khapaz, tentamos, através da música e da cultura, pôr esses mesmos jovens a reflectir, para que percebam onde estão, como aqui chegaram e para onde vão. Queremos que eles entendam que têm responsabilidade pelo seu futuro e que a mudança também depende deles.

A associação vive para a música ou graças a ela?
A associação vive, não só para a música mas para a todas as formas de expressão de cultura urbana, e não apenas ou graças a ela. A Khapaz é o suporte ideológico para a expressão/libertação destes jovens em várias áreas, como: vídeo, graffiti, design, música e dança... Hoje em dia e felizmente, a associação conta com alguns apoios institucionais mas o objectivo é, cada vez mais, poder viver daquilo que constrói.

Depois de Rapresálias e Rapensar (2004), que género de rap vem aí?
A nível da sonoridade, novos instrumentos. A nível da palavra, continuarei a promover as minhas ideias, com amor, muita expressão, muita paixão, muita verdade, muito protesto… continuará a ser rap de consciencialização.

Quem, em Portugal, tem Ignorância XL?
Todos nós… há algumas semanas atrás morreu um miúdo, que foi baleado pela polícia… no entanto, na comunicação social só se ouve falar no Cristiano Ronaldo e em outras psudo-celebridades. Somos todos dotados de ignorância… cada vez mais XL.

5 comments:

Anonymous said...

Ui nao conhecia esse jovem..mas tem muita revolta dentro dela!


Ginseng... muito Ginseng

Anonymous said...

O ídolo da Tatchy enfim no And The Beat Goes On... ;) Memorável.

Anonymous said...

Qual a reportagem que se segue?? Continua a brindar-nos com o bom jornalismo cultural a que nos tens habituado..

ps:um dia montamos uma empresa hahah!!

Anonymous said...

Vamos travar a ignorância XL!!!

Anonymous said...

gostei das respostas dele...e bastante da tua última pergunta:)

bjs...fika bem...