Autora, actriz, argumentista e apresentadora de TV. Uma mulher completa e com conteúdo. Fascinada por Fernando Pessoa, a vida nocturna lisboeta e as peculiaridades da sociedade moderna, eis Fernanda Young, a entrevistadora no lugar de entevistada.
O que irrita Fernanda Young?
Grosseria. Não suporto gente grossa. Gente que destrata. Gente que tem páfia.
Qual foi o projecto mais desafiante em que participou até hoje?
O lançamento do meu primeiro livro foi o momento mais excitante da minha vida. Pensei: «Uau! Como? Aconteceu!» Era muito jovem, tinha 25 anos, não achava que ia conseguir. Foi uma grande surpresa, quando recebi um telefonema a dizer «aqui é a editora tal. A gente quer publicar o seu livro». Foi a coisa mais desafiante, porque era um novo mundo que se abria para mim. Algo que eu sonhava, mas que era um sonho quase impossível. Não conhecia ninguém, nem tinha meios de conseguir qualquer coisa que não fosse de forma legítima e acabou por acontecer da forma mais poética.
E desde então já editou quantos livros?
Nove: oito romances e um de poesia. E também alguns de roteiro.
Falando em literatura, sei que é uma grande admiradora de Fernando Pessoa. De onde vem esse interesse?
Na minha adolescência era - sou - uma grande leitora de poesia, uma grande leitora de Fernando Pessoa. Gostar de Fernando Pessoa era vital no meu meio, na minha juventude… quando eu percebi que a minha 'praia' era literatura, juntei-me com pessoas que também liam, e Fernando Pessoa era - e ainda é - a grande união de entre todos. Não há ninguém que não goste de Fernando Pessoa. Aliás, é impossível! Pode até não gostar-se tanto de um ou outro heterónimo, mas não gostar de Fernando Pessoa, não perceber a sua glória, é impossível.
Além de Fernando Pessoa, que outros nomes portugueses tem como referência?
Eça de Queiroz, Saramago. Saramago é um orgulho para a nossa língua, saber que somos detentores de um Nobel . Digo ‘somos’ porque «a minha língua é a minha pátria», então a minha pátria é a língua portuguesa. Mas são muitas as referências, inclusive, autores mais contemporâneos. Quando estive em Portugal da primeira vez, fui muito bem recebida por pessoas que me apresentaram a vários autores e saí daqui abarrotada de livros. É um facto que a língua portuguesa me remete a inúmeras experiências literárias… e poder ler as obras na sua forma original – imagina, poder ler na língua portuguesa o original! É uma sorte.
Portanto, esta não é a sua premeria vez em Portugal…
Não, é a segunda. Da primeira vez, vim em trabalho, promover o meu livro, Os Normais. Foi uma delícia! Passei muitos dias aqui. Engordei horrores! Desta vez também vim um pouco em trabalho, para reatar alguns nós. Vamos ver se eu consigo voltar para ficar por cá por mais tempo...
E o que já conhece de Portugal?
Infelizmente, não muito. Mas em Lisboa eu conheço Alfama, Chiado, Bairro Alto… todos os lugares! Belém, a Torre de Belém, já coloquei o pé no local onde saíram as caravelas. Até chorei (risos). Comi em todos os melhores restaurantes. Vivi a vida nocturna de Lisboa. Já fui ao Lux – não desta vez, mas da outra. E ao Bairro Alto, que é uma loucura, com toda aquela gente nas ruas, vibrando numa essência boémia e charmosa. Realmente, são dois espaços diferentes em que eu vivi Lisboa de uma forma muito intensa. Também fui a Cascais e a Sintra. Mas ainda não fui ao Porto, que é um sonho antigo meu.
Falou em Os Normais, que foi um grande sucesso e consequentemente adaptado para televisão. Mais recentemente assinou o argumento de Separação?!, actualmente em exibição na TV Globo Portugal. O que se segue?
Brevemente estreará Algo Errado, o novo programa da Globo, com Jorge Fernando e Marisa Orth, que conta a história de um gay, que sofre um acidente – cai-lhe uma bola de espelhos na cabeça, numa discoteca – e deixa de ser gay. A trama apresenta um conflito engraçado, de inversão de valores. Afinal, a nossa sociedade – grosseira e homofóbica – espera que todos sejam heterossexuais e aqui a situação inverte-se: estão todos indignados com eles; o ex-gay e a ex-gorda.
E também Duas Histéricas que é o meu programa de turismo, feio para a GNT, que espero que passe ena TV Globo Portugal, como aconteceu com Saia Justa e Irritando Fernanda Young. Duas Histéricas é um programa de turismo, em que a personagem principal é roubada. Então é divertido, porque mostra os países e as suas cidades, sem que tudo neles pareça incrível para os turistas. Não que os países sejam maus, mas os turistas passam por colapsos durante as suas viagens, que são engraçadíssimos, e os programas tradicionais de turismo mostram sempre tudo perfeito, uma gente linda… vocês vão ver a quantidade de erros que eu cometi com o meu cabelo e… tudo errado! Até tatuagem eu fiz, na Terra Santa!
Por falar em tatuagens, sabe dizer-nos quantas tatuagens tem ou já perdeu a conta?
Já (risos). Às vezes ainda tento contá-las, mas eu tenho muitas tatuagens pequenas, então: um, dois, três, quatro, cinco… não dá para contar!
Alguma feita cá?
Esta (no antebraço direito)! De Fernando Pessoa, «Navegar é preciso». Fiz, aqui, em Lisboa. Fiquei muito feliz, porque quando cheguei a Portugal (da primeira vez), passei a entender uma boa parte das coisas que eu não entendia a meu respeito. Isso é curioso. É a pátria… é a Mãe… na verdade, a pátria é o Brasil… mas é Mãe. Foi o entendimento de um vazio, que eu não entendia sobre mim. E graças ao mau gosto da falta de auto-estima nacional no Brasil, de ficar fazendo piadas e invertendo coisas, tinha uma percepção totalmente errada de Portugal. Aí, quando vim cá e me deparei com uma inteligência emocional muito forte, sentido de humor e metáforas sofisticadas que os portugueses têm, e beleza física, entendi que somos bonitos porque somos portugueses. Então, foi bom. Deu-me auto-estima. No Brasil nós temos uma tendência de excluir a auto-estima para ver se a gente fica sossegada. É assim que você domina um povo.
Voltando à televisão, gostaria de escrever algum produto específico para o mercado português?
Com certeza. Isso é bem claro. Quando eu vim aqui da primeira vez, tinha acabado de fazer o Saia Justa e então pensei: «Nossa, eu podia fazer um programa aqui. Ficar por aqui…». Depois, obviamente, voltei para o Brasil, e na sequência criei o Irritando Fernanda Young, fiquei por lá e tive mais filhos. Talvez pudesse vir, desde que conseguisse conciliar a minha vinda com as minhas obrigações no Brasil, como roteirista.
Quero também trazer o Duas Histéricas aqui – que eu acho que é óptimo. Fazer um programa sobre Portugal, com essa perspectiva, para o meu público no Brasil, que é grande, é bacana! E, talvez, quem sabe, fazer roteiro aqui também. Não só para televisão, mas para cinema ou teatro. A ideia é realmente essa. Mas preciso deixar bem claro à minha família que, para mim essa terra também minha... e, desculpem, mas quem vos mandou irem para lá levaram a língua? Agora, vão ter de me aguentar. A culpa é vossa (risos).
Também acontece o inverso. Há portugueses que querem ir trabalhar para o Brasil. Por exemplo, o actor Ricardo Pereira está agora no Brasil. Como vê este intercâmbio de actores os dois paises?
Acho-o lindo (risos). Acho -o um grande actor, apesar de não o conhecer pessoalmente nem nunca ter trabalhado com ele. Acho que é cabível. É tão natural para o português a aceitação do brasileiro, que faz todo o sentido que o inverso seja idêntico. E o Brasil está receptivo. O povo brasileiro é um pouco muito receptivo. E é totalmente saudável que Portugal e o Brasil, culturalmente, se misturem.
Última pergunta: televisão, cinema ou teatro?
Televisão. E não tenho constrangimento em dizê-lo, embora seja um choque quando o faço no Brasil. Às vezes sou mal interpretada, por ser escritora, como se fosse trivial gostar-se de televisão. Mas eu gosto.
O que irrita Fernanda Young?
Grosseria. Não suporto gente grossa. Gente que destrata. Gente que tem páfia.
Qual foi o projecto mais desafiante em que participou até hoje?
O lançamento do meu primeiro livro foi o momento mais excitante da minha vida. Pensei: «Uau! Como? Aconteceu!» Era muito jovem, tinha 25 anos, não achava que ia conseguir. Foi uma grande surpresa, quando recebi um telefonema a dizer «aqui é a editora tal. A gente quer publicar o seu livro». Foi a coisa mais desafiante, porque era um novo mundo que se abria para mim. Algo que eu sonhava, mas que era um sonho quase impossível. Não conhecia ninguém, nem tinha meios de conseguir qualquer coisa que não fosse de forma legítima e acabou por acontecer da forma mais poética.
E desde então já editou quantos livros?
Nove: oito romances e um de poesia. E também alguns de roteiro.
Falando em literatura, sei que é uma grande admiradora de Fernando Pessoa. De onde vem esse interesse?
Na minha adolescência era - sou - uma grande leitora de poesia, uma grande leitora de Fernando Pessoa. Gostar de Fernando Pessoa era vital no meu meio, na minha juventude… quando eu percebi que a minha 'praia' era literatura, juntei-me com pessoas que também liam, e Fernando Pessoa era - e ainda é - a grande união de entre todos. Não há ninguém que não goste de Fernando Pessoa. Aliás, é impossível! Pode até não gostar-se tanto de um ou outro heterónimo, mas não gostar de Fernando Pessoa, não perceber a sua glória, é impossível.
Além de Fernando Pessoa, que outros nomes portugueses tem como referência?
Eça de Queiroz, Saramago. Saramago é um orgulho para a nossa língua, saber que somos detentores de um Nobel . Digo ‘somos’ porque «a minha língua é a minha pátria», então a minha pátria é a língua portuguesa. Mas são muitas as referências, inclusive, autores mais contemporâneos. Quando estive em Portugal da primeira vez, fui muito bem recebida por pessoas que me apresentaram a vários autores e saí daqui abarrotada de livros. É um facto que a língua portuguesa me remete a inúmeras experiências literárias… e poder ler as obras na sua forma original – imagina, poder ler na língua portuguesa o original! É uma sorte.
Portanto, esta não é a sua premeria vez em Portugal…
Não, é a segunda. Da primeira vez, vim em trabalho, promover o meu livro, Os Normais. Foi uma delícia! Passei muitos dias aqui. Engordei horrores! Desta vez também vim um pouco em trabalho, para reatar alguns nós. Vamos ver se eu consigo voltar para ficar por cá por mais tempo...
E o que já conhece de Portugal?
Infelizmente, não muito. Mas em Lisboa eu conheço Alfama, Chiado, Bairro Alto… todos os lugares! Belém, a Torre de Belém, já coloquei o pé no local onde saíram as caravelas. Até chorei (risos). Comi em todos os melhores restaurantes. Vivi a vida nocturna de Lisboa. Já fui ao Lux – não desta vez, mas da outra. E ao Bairro Alto, que é uma loucura, com toda aquela gente nas ruas, vibrando numa essência boémia e charmosa. Realmente, são dois espaços diferentes em que eu vivi Lisboa de uma forma muito intensa. Também fui a Cascais e a Sintra. Mas ainda não fui ao Porto, que é um sonho antigo meu.
Falou em Os Normais, que foi um grande sucesso e consequentemente adaptado para televisão. Mais recentemente assinou o argumento de Separação?!, actualmente em exibição na TV Globo Portugal. O que se segue?
Brevemente estreará Algo Errado, o novo programa da Globo, com Jorge Fernando e Marisa Orth, que conta a história de um gay, que sofre um acidente – cai-lhe uma bola de espelhos na cabeça, numa discoteca – e deixa de ser gay. A trama apresenta um conflito engraçado, de inversão de valores. Afinal, a nossa sociedade – grosseira e homofóbica – espera que todos sejam heterossexuais e aqui a situação inverte-se: estão todos indignados com eles; o ex-gay e a ex-gorda.
E também Duas Histéricas que é o meu programa de turismo, feio para a GNT, que espero que passe ena TV Globo Portugal, como aconteceu com Saia Justa e Irritando Fernanda Young. Duas Histéricas é um programa de turismo, em que a personagem principal é roubada. Então é divertido, porque mostra os países e as suas cidades, sem que tudo neles pareça incrível para os turistas. Não que os países sejam maus, mas os turistas passam por colapsos durante as suas viagens, que são engraçadíssimos, e os programas tradicionais de turismo mostram sempre tudo perfeito, uma gente linda… vocês vão ver a quantidade de erros que eu cometi com o meu cabelo e… tudo errado! Até tatuagem eu fiz, na Terra Santa!
Por falar em tatuagens, sabe dizer-nos quantas tatuagens tem ou já perdeu a conta?
Já (risos). Às vezes ainda tento contá-las, mas eu tenho muitas tatuagens pequenas, então: um, dois, três, quatro, cinco… não dá para contar!
Alguma feita cá?
Esta (no antebraço direito)! De Fernando Pessoa, «Navegar é preciso». Fiz, aqui, em Lisboa. Fiquei muito feliz, porque quando cheguei a Portugal (da primeira vez), passei a entender uma boa parte das coisas que eu não entendia a meu respeito. Isso é curioso. É a pátria… é a Mãe… na verdade, a pátria é o Brasil… mas é Mãe. Foi o entendimento de um vazio, que eu não entendia sobre mim. E graças ao mau gosto da falta de auto-estima nacional no Brasil, de ficar fazendo piadas e invertendo coisas, tinha uma percepção totalmente errada de Portugal. Aí, quando vim cá e me deparei com uma inteligência emocional muito forte, sentido de humor e metáforas sofisticadas que os portugueses têm, e beleza física, entendi que somos bonitos porque somos portugueses. Então, foi bom. Deu-me auto-estima. No Brasil nós temos uma tendência de excluir a auto-estima para ver se a gente fica sossegada. É assim que você domina um povo.
Voltando à televisão, gostaria de escrever algum produto específico para o mercado português?
Com certeza. Isso é bem claro. Quando eu vim aqui da primeira vez, tinha acabado de fazer o Saia Justa e então pensei: «Nossa, eu podia fazer um programa aqui. Ficar por aqui…». Depois, obviamente, voltei para o Brasil, e na sequência criei o Irritando Fernanda Young, fiquei por lá e tive mais filhos. Talvez pudesse vir, desde que conseguisse conciliar a minha vinda com as minhas obrigações no Brasil, como roteirista.
Quero também trazer o Duas Histéricas aqui – que eu acho que é óptimo. Fazer um programa sobre Portugal, com essa perspectiva, para o meu público no Brasil, que é grande, é bacana! E, talvez, quem sabe, fazer roteiro aqui também. Não só para televisão, mas para cinema ou teatro. A ideia é realmente essa. Mas preciso deixar bem claro à minha família que, para mim essa terra também minha... e, desculpem, mas quem vos mandou irem para lá levaram a língua? Agora, vão ter de me aguentar. A culpa é vossa (risos).
Também acontece o inverso. Há portugueses que querem ir trabalhar para o Brasil. Por exemplo, o actor Ricardo Pereira está agora no Brasil. Como vê este intercâmbio de actores os dois paises?
Acho-o lindo (risos). Acho -o um grande actor, apesar de não o conhecer pessoalmente nem nunca ter trabalhado com ele. Acho que é cabível. É tão natural para o português a aceitação do brasileiro, que faz todo o sentido que o inverso seja idêntico. E o Brasil está receptivo. O povo brasileiro é um pouco muito receptivo. E é totalmente saudável que Portugal e o Brasil, culturalmente, se misturem.
Última pergunta: televisão, cinema ou teatro?
Televisão. E não tenho constrangimento em dizê-lo, embora seja um choque quando o faço no Brasil. Às vezes sou mal interpretada, por ser escritora, como se fosse trivial gostar-se de televisão. Mas eu gosto.
2 comments:
Free Egipto
Power to the People
Mubarak Vai-te embora para casa!
Rui de Castro
@lisbonlifestyle :)
Gostei!
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