Wednesday, November 3, 2010

Flamingo

By Flowers


As palavras e a forma como as perspectivamos, são um dos processos artísticos mais interessantes de se admirar.

É na comunicação e na desconstrução semiótica da mesma, que muitas vezes encontramos a criação mais pura, o artista mais concludente, a identificação mais directa.

O universo Americano Musical está repleto de wannabees, bandas formadas em clubes, sem identidade, sem cheiro próprio, sem alguém que consiga personificá-las e torná-las um pouco mais eternas.

Os The Killers surgiram nessa corrente contra-rock pós-adolescente, mas podiam ter morrido ali mesmo, com aquele refrão I heard that you had a boyfriend who use to be a girlfirend. Mas singles como Smile Like Your Mean It ou All These Things I’ve Done vieram avisar o que hoje já é uma confirmação: os The Killers são uma das maiores bandas, à escala mundial, da nossa década.

Sam’s Town foi a confirmação cheia de riffs. O álbum a fazer lembrar os grandes épicos do rock, como Bruce Springsteen, e a deixar patente na história da música esse clássico (sobre o que é estar verdadeiramente apaixonado), como é Read My Mind.

Mais do que os Green Day, os The Killers souberam sempre actualizar-se, acompanhar tendências, evoluir sob o seu próprio conceito e foi sempre o vocalista, Brandon Flowers, que sempre representou essa imagem de marca.

Essa mente visionária, essa energia que é passada ao vivo, a confusão de metáforas pelas quais nos vamos apercebendo à medida que interpretamos as letras, a essência da matéria que escorre por entre as mesmas. Essa perfeição que é podermos descobrir a nossa realidade numa frase perdida, numa canção qualquer.

Já se tinha percebido que Flowers queria perseguir um caminho mais pop e não tão masculino como o álbum Day & Age, um verdadeiro êxito de vendas, nos tinha mostrado.

Por isso e para poder extravasar a sua personalidade, sem por em causa aquilo que os The Killers são, decidiu escrever Flamingo, o seu primeiro álbum a solo.

Primeiro estranha-se, depois cola-se, degusta-se, apaixona-se. Como se aquelas palavras fossem só nossas, só a nós pertencessem, por direito e as batidas nos completassem.

Flowers tem essa virtude e ele sabe.

Como se já o conhecêssemos e pudéssemos partilhar com ele os pecados mais íntimos, os desejos mais recônditos.

Para fazer este álbum, Brandon foi buscar Stuart Price, que já tinha trabalhado em Day & Age (produziu o single Human) e mais recentemente responsável pelo último trabalho de Kylie Minogue, entre outros.

E se para Flowers, foi estranho trabalhar sozinho em estúdio; para nós, também é estranho ouvi-lo sem companhia.

Os temas, não têm aquele empowerment que qualquer tema dos The Killers possui e nos apetece correr durante meia-hora a suar em bica.

Mas sentimo-nos muito mais próximos do artista, as letras são mais sinceras, mais escorreitas, como se Flowers finalmente dissesse tudo o que sempre quis dizer, mesmo que isso signifique ser um pouco romântico. Mesmo que o álbum queira representar aquilo que se sente, quando se vive em Las Vegas.

Crossfire, o primeiro single, é das melhores músicas que correm em algumas playlists nacionais e frases como And our dreams will break the boundaries of our fears, certamente merecem ser ouvidas.

O segundo single a ser lançado em Dezembro, Only The Young, mais comercial, com Flowers sempre a relembrar-nos o poder que a idade tem e como o tempo pode acabar com ela. Com uma batida genial, uma construção métrica perfeita e nós a sonharmos. Novamente.

O dueto Hard Enough com Jenny Lewis dos Rilo Kiley, é outra das preciosidades. E a forma haromoniosa como a voz de Jenny foi aqui colocada, é sublime.

Temos ainda as músicas mais rock & roll como Sallow It (genial, com uma vibe que nos faz vibrar) ou Was It Something ISaid?.

Mas é nos momentos mais calmos que Flowers surpreende.

Primeiro em Playing With Fire, um épico à espera de ser encontrado e depois On the Floor.

Aquilo que mais sentimos ao ouvir este disco, principalmente se formos fãs dos The Killers, é que parece que Flowers gravou o disco especialmente para nós, como se soubéssemos o que pensa ou o quer ver reflectido. E é de facto de grande relevância podermos apaixonarmo-nos completa e profundamente e entrar no mundo de um artista que tem tanto, tanto para ser explorado.

I’ve got this burning belief in salvation and love...

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