Wednesday, July 28, 2010

Nothing But Love Love Love Whitney

The Nothing But Love Tour in Milan 28/05

Os media são um dos pontos determinantes para o sucesso, mas também para o declínio de qualquer artista.

Durante anos, a carreira de Whitney Houston foi popularizada não só pelas suas músicas, mas também pela imagem que os media passavam da mesma, para o público.

Foi a primeira artista negra a ter honras concedidas, inicialmente, apenas a artistas brancos e por isso mesmo, foi sempre elogiada.

A voz poderosa, a imagem de menina bem comportada, criada na Igreja, o aspecto de modelo e a linhagem de artistas (Dionne Warwick, Aretha Franklin), deram a Whitney Houston um percurso insuperável, entre 1985-1994.

Depois disso, tudo mudou e Whitney tornou-se demasiado negra. Casou com a estrela r&b Bobby Brown, os seus filmes passaram a ter apenas negros no elenco ( Denzel W.) e a sua música passou de música pop, para um r&b urbano e áspero. As drogas, o vício do álcool e um casamento atribulado não ajudaram e Whitney tornou-se um alvo fácil dos media. E tudo piorou quando o mundo perdeu MJ e os paparazzi tiveram de encontrar outro mártir, com o qual fizessem uma quantas capas de revistas.

A vida turbulenta da artista, juntamente com um passado absolutamente glorioso culminaram em 2009, quando tentou fazer um regresso que ninguém esperava.

Divorciou-se, deixou o vício que quase a matou e confessou-se a Oprah na entrevista com mais share da história do programa. Lançou um álbum em que a capa, em tudo, fazia lembrar a do seu primeiro álbum em 1985, que acabaria por vender 23 milhões de cópias, a nível mundial.

O resultado é significativo: I Look To You já vendeu mais do que Rihanna, Kelly Clarkson ou Mary J. Blige, apesar de nenhum single passar nas rádios.

A música tornou-se novamente mais pop e a puxar ao lado espiritual a ver se as pessoas se esqueciam daquilo que Whitney já fez e se tornou. O único problema foi que, aos 46 anos e devido ao abuso da droga, o ponto que sempre distinguiu Whitney de todas as artistas - a voz - perdeu-se. É um facto e nem eu, como grande fã, posso negar isso. É um alívio ouvi-la a alcançar algumas notas, mas sabemos todos, perfeitamente, que a voz de Whitney nunca será a mesma. E para uma artista sempre admirada pela sua voz (não sabe dançar), perdê-la, pode ser o encerramento definitivo de uma longa carreira.

A bóia de salvamento é que, para alguém que durante anos foi apelidada de A melhor voz do mundo ou considerada como tesouro nacional da América, perder grande parte da voz, significa, continuar a cantar melhor do que a grande maioria das artistas, actualmente. E ela sabe disso. E talvez por isso mesmo, I Look To You tenha sido um sucesso, vendendo 3 milhões de cópias, mesmo que as rádios se recusem a tocar os singles ou os grammys se tenham esquecido dela.

Quando Whitney lançou a tournée e as datas, pensei é uma sorte se ela chegar ao fim viva. E digamos, é preciso ter coragem para se lançar naquela que será – acredito eu – a última tournée da artista. Principalmente quando a voz, aquilo que toda a gente quer ouvir, não será nunca a mesma que foi nas décadas anteriores.

E as pessoas que vão vê-la, deveriam ter tido noção disso. Se no último álbum se denota e constata isso e o trabalho é em estúdio, ao vivo, nunca poderá ser melhor.

E foi com essa convicção que entrei no avião, rumo a Milão.

Sabia que no fim-de-semana anterior, os concerto esgotados em Londres tinham corrido mal. Whitney culpou o ar condicionado por não conseguir cantar e tinha visto (toda a gente viu) as notícias referentes aos concertos falhados na Austrália.

Mesmo assim, dia 3, lá estava eu, 6 horas antes, com o meu bilhete comprado na Internet. Os bilhetes sim, são a um preço impensável. Alguns custam mais de 500 euros.

A experiência de ir a um concerto de Whitney, é comparável a ir à ópera. Não existem lugares de pé, a média de idades é superior aos 35 anos e está toda a gente impecavelmente vestida.

Enquanto estava cá fora, ouvia-a fazer o sound-check e fiquei admirado. Estava a cantar bem.

Depois de ter passado um tempo interminável cá fora à chuva, ( sim, fui sozinho), entrei, sentei-me e esperei. Havia pessoas a vender pipocas no meio das bancadas, cachorros e o merchandising da artista, caríssimo também, por sinal.

Dois artistas fizeram a primeira parte, mas não vale a pena fazer grande referência.
O concerto em si, começou um quarto de hora, depois da hora - 21.15.

Num grande ecrã, eram projectadas imagens de Whitney, desde o início da carreira, até aos dias de hoje. E quando ela saiu, as 12.000 pessoas que lotavam o espaço, encheram o pavilhão de aplausos e gritos (a senhora que estava trás de mim , com 60 anos, parecia uma miúda que tinha ido à sessão de autógrafos dos Tokio Hotel e a romena que estava ao meu lado desatou a chorar. Aliás, ela chorou o concerto todo).

Whitney começou com For the Lovers, a faixa que tem tudo para ser um hit, do seu último trabalho, mas que não será lançada em single. Quatro bailarinos acompanhavam-na, enquanto Whitney cantava e tentava dançar. 2 dos bailarinos pertenciam à tournée de MJ.

Fiquei surpreendido. A voz estava boa, Whitney estava super à vontade. Fiquei surpreendido também, mas não pela positiva. Whitney sempre foi acusada de ser extremamente magra, mas parece que esses tempos já passaram… !

Nothin But Love, outra das músicas do último trabalho e produzida por Danja ( o senhor que trabalha com Britney Spears), foi a segunda música e aquela que dá nome à tour ( Nothing But Love World Tour).

Foi depois das duas primeiras músicas, que Whitney mostrou a sua personalidade.

Falou, conversou, maquilhou-se (coisas de diva), mas sempre com o público super entusiasmado. (A romena não parava de chorar).

Cantou então a balada I Look to You e mostrou que a sua voz ainda não está terminada. Alcançou notas altas, algumas bem melhor exploradas do que a gravação nos oferece.

A partir daí, foi sempre a somar, sempre a subir, com Whitney a atingir notas que eu, sinceramente, não estava à espera que conseguisse mais. Pelo menos, depois de ler tantas críticas más.

Não estamos a falar da voz perfeita e melodiosa e forte que Whitney teve durante os anos 80/90, mas mesmo assim, conseguia ser muito melhor do que a maioria das vocalistas dos nossos dias.

Whitney pôs toda a gente de pé com os smashs My Love Is Your Love e Step By Step. Foi um dos grande momentos revivalistas, com o público a cantar com a artista.

Seguiu-se uma troca de roupa e Gary Houston, irmão, que desde sempre actua nos intervalos das tornes de Whitney, fez uma performance de For the Love of You, canção menor da irmã.

Antes de Whitney entrar em palco novamente, os bailarinos dançaram uma remix de Queen Of the Night. E dançaram tão bem, que as pessoas não se contiveram e dançaram a música por inteiro.

Quando Whitney entrou, vinha completamente remodelada. Pose de Diva, vestido comprido, casaco de peles e foi a histeria. As pessoas gritavam your the best e ela agradecia, comovida. Whitney teve ainda um momento lúdico, quando andou em pleno palco, à procura do ar condicionado, até que finalmente o encontrou e mandou desligá-lo. Coisas de Diva parte 2.

No ecrã gigante apareceu então, para surpresa, Michael Jackson e ela falou-nos um pouco dele, dos tempos em que eram amigos e dedicou-lhe o tema Song for You do seu mais recente trabalho, um cover de Leonel Russel.

Seguiram-se várias baladas. Aliás, este segmento era completamente dedicado ao Amor e aos tempos em que Whitney nos fazia acreditar nessas patetices todas.

Revisitou os primeiros n.º 1´s como Saving All My Love For You ou a mítica Greatest Love of All, esse sucesso transformado em clássico do karaoke.

Visitou as suas raízes negras com o hit gospel I Love the Lord ( um dos grande momentos altos do concerto), do seu álbum The Preacher's Wife e não se esqueceu de agradecer a Deus e de referir que era dela, o álbum gospel mais vendido da história.

I Learned From The Best em versão acústica, como se fosse um recado para o Ex Bobby Brown, foi o tema que antecedeu o momento que (quase) todos esperavam.

I Will Always Love You, é o grande marco de Whitney. A cena em que abraça Kevin Costner, no aeroporto, é sem dúvida, essa grande imagem de Hollywood e que acabaria por cravar toda uma geração. E claro, mais recentemente, pela grande polémica de a artista não a conseguir cantar por inteiro, nos seus espectáculos.

Quando chegou a altura do grande momento, aquele que arrepiava toda a gente, percebemos que Whitney tem 46 anos, um passado turbulento e a voz (sempre a voz), já não era a mesma. Foi a única música que senti, com grande honestidade, que não a deveria ter incluído na set list, mas é difícil. Que artista vai colocar de lado um single que vendeu 12 milhões de cópias e foi n.º 1 em todos os charts possíveis e imaginários?

Whitney fez uma rápida troca de roupa e nos ecrãs, apareceu a palavra Dance!.

Era altura de deixarmos as baladas para trás e entrarmos nos anos oitenta, que tanto estão em voga.

I Wanna Dance With Somebody e How Will I Know fizeram toda a gente dançar. Whitney interpretou ainda a sua música preferida do ultimo álbum I Didn t Know My Own Strength, que relata um pouco do seu passado, antes de seguir para o encore.

E claro, o encore foi uma verdadeira festa, com Whitney a cantar e a dançar, apesar de visivelmente cansada e derrotada, o último single escrito por Alicia Keys, Million Dollar Bill, em versão remix (olhei para a romena e ela estava a chorar, ainda).

Quando Whitney se foi embora, reparei que aquelas duas horas tinham passado extremamente rápido. Tive pena que alguns clássicos não tivessem sido interpretados, como It's Not Right But It's Okay ou I'm Every Woman. Percebi também que tinha sido a primeira vez que tinha ido a um concerto sozinho e que não me tinha dado conta disso. Acredito mesmo, que jamais alguém sentiria o mesmo (momento piroso), com a excepção da pessoa que me ofereceu o bilhete e fez o mês de Maio ser um mês incrível e que seria a única pessoa com quem poderia partihar aquele momento, que para mim, foi extremamente valioso.

Obrigado, Diana.

Enfim, gostávamos de mais, todos. A energia das pessoas era de felicidade e pareciam extremamente contentes, a levarem para casa o vário merchadising, disponível. Whitney Houston pode já não ter a voz que em muitos anos a distinguiu.

Mas o que a distingue verdadeiramente de todas as outras artistas é que ela não precisa necessariamente disso. Whitney não vale pela artista que é. Já acompanhou tantas gerações, que vale também, pela imagem e personalidade que fomos acompanhando. Pelos dramas, pela roupa, por nos fazer dançar, cantar e mergulhar num ambiente que é dela e do qual já nos sentimos felizes por podermos partilhar.

Whitney cantou bem e esta pode ter sido a última torne dela.

Como a própria referiu sobre o amigo M.J., aproveito também para me referir a ela: Quando se lembrarem dela, lembrem-se não das coisas más que vamos ouvindo ali e acolá, mas lembrem-se da dedicação que alguns artistas nos vão transmitindo ao longo de vários anos. O que cada um destes ícones deixa connosco, ao longo de gerações, é sem dúvida aquilo que de mais importante nos podem oferecer.

E Whitney deixou-nos imenso.

6 comments:

Ricardo Reis said...

e mais vale tarde que nunca!

Hélder Silva said...

O que cada um destes ícones deixa connosco, ao longo de gerações, é sem dúvida aquilo que de mais importante nos podem oferecer.

Marcelo Barbosa said...

Óptimo texto, excelente crítica e abrangência completa, desde a a crítica ao último álbum até à opinião sobre o concerto, referindo tanto os pontos altos como os pontos baixos.
Muito boa visão de um fã como o Luis, que sabe admitir que ela j...á não é o que foi outrora mas que, como ele disse e com toda a razão, não nos podemos esquecer do enorme hit que ela foi no seu tempo. E lá está, a Whitney em baixa forma é melhor do que muitas que por aí andam e supostamente são estrelas.
Tal como disse ao Luis, ler este texto até me deixa pena de não ter ido ver o concerto :)See More

Miguel Machado said...

gostei imenso deste texto...luis realmente uma optima critica...pessoal, mas ao mesmo tempo imparcial, cmo deve ser.so tenho pena de uma coisa...nao ter ido ao concerto!fuck LOOL

Ana Sofia Carvalho said...

One Moment In Time...

Anonymous said...

És sortudo...pareceu-me que foi o teu melhor concerto da vida!